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Belém poderá ser primeiro município a estabelecer piloto de Sistema de Economia de Cuidados no Brasil 691q5t



30.05.2022 316h4d


Nesta segunda-feira, 30 de maio, ONU Mulheres Brasil e Open Society Foundations anunciaram início de parceria com a Prefeitura Municipal e a FUNPAPA; além de promover direitos e oportunidades para cuidadoras, projeto visa atender a quem necessita de cuidados e a reequilibrar responsabilidades, incluindo nesses papéis também os homens, gestão pública, empresas e a sociedade como um todo e, assim, criando oportunidades para melhor inserção laboral das mulheres

Belém poderá ser primeiro município a estabelecer piloto de Sistema de Economia de Cuidados no Brasil/noticias

Na foto, Ana Carolina Querino, representante adjunta da ONU Mulheres no Brasil, Alfredo Costa, presidente da FUNPAPA, Edmilson Rodrigues, prefeito de Belém, e Pedro Abramovay, diretor para a América Latina e Caribe da Open Society Foundations, assinam Memorando de Entendimento (Foto: ONU Mulheres Brasil / Paola Bello)

 

Historicamente, são as mulheres quem mais assumem as tarefas de cuidado, remunerado ou não. Dados do IBGE apontam que elas dedicam 73% a mais do tempo aos trabalhos domésticos e tarefas de cuidado de outras pessoas em comparação com os homens – tanto de maneira exclusiva quanto em jornada extra, depois do trabalho formal, o que limita a participação dessas mulheres em atividades de desenvolvimento pessoal e profissional e sua participação na vida pública. Elas também são a maioria nas ocupações ligadas ao cuidado, como enfermagem (84% são mulheres) e trabalho doméstico (92%), de acordo com a Fiocruz e o IPEA. Porém, a baixa remuneração e os altos índices de informalidade limitam o o ao trabalho decente e a direitos sociais, como aposentadoria e licença maternidade. Pensando em alternativas para reconhecer, redistribuir, reduzir, remunerar e representar o trabalho e as trabalhadoras de cuidado, para atender a quem necessita desses serviços e viabilizando o empoderamento econômico das mulheres que o executam, a ONU Mulheres Brasil e a Open Society Foundations anunciaram, nesta segunda-feira, 30 de maio, parceria com a Prefeitura de Belém (PA) e a Fundação Papa João XIII (Funpapa) para estabelecer um piloto de Sistema Municipal de Cuidados no município. Com a iniciativa, Belém poderá ser o primeiro município brasileiro a estabelecer tal sistema.

O objetivo principal do projeto, que segue até agosto de 2024, é apoiar o município de Belém a desenvolver um sistema municipal que reconheça o valor do trabalho de cuidado, remunerado ou não, que responda às necessidades de quem necessita de cuidados e das mulheres que assumem esse papel de cuidadoras. As ações têm como norte a Economia do Cuidado, termo usado para designar os trabalhos ligados ao bem-estar e à sobrevivência das pessoas e do meio em que estão inseridas – que vão desde afazeres domésticos, compras no supermercado e preparo de refeições até a educação e ao cuidado de crianças, pessoas idosas e com deficiência. Embora sejam de responsabilidade de todas as pessoas (homens, mulheres e sociedade como um todo), são as mulheres que acabam carregando o maior peso nesse papel, na maioria das vezes, invisibilizado e não remunerado.

Para mudar o olhar sobre essa responsabilidade, o sistema que será desenvolvido por meio do projeto irá permitir que diferentes serviços de cuidado (como educação, creches, saúde, assistência a pessoas com deficiência e idosas, entre outras) funcionem de maneira integrada. Assim, por um lado, todas as pessoas que necessitam de cuidados, em qualquer estágio da vida, conseguem recebê-lo de maneira rápida e eficiente, valorizando e remunerando as profissionais que o realizam. Na outra ponta, as mulheres cuidadoras reduzem o tempo dedicado a essas tarefas não remuneradas, conseguindo ter mais disponibilidade para o desenvolvimento profissional, à integração socioeconômica pelo mercado de trabalho e à participação ativa na sociedade onde vivem.

“Em nossa sociedade, o desequilíbrio na divisão do trabalho de cuidado afeta de forma mais intensa as mulheres negras, pobres, rurais, indígenas, migrantes e mulheres com deficiência. Essas mulheres também têm menos oportunidades para entrar no mercado formal de trabalho. Assim, uma desigualdade acaba reforçando a outra, levando a uma lacuna de o a direitos. Com esse projeto, apoiaremos a prefeitura de Belém a construir ferramentas que possam identificar e atender às demandas de quem necessita de cuidado, reconhecer o trabalho exercido pelas cuidadoras, com condições dignas de trabalho e com remuneração adequada, além de mobilizar a sociedade para dividir a carga que esse trabalho exige quando não é remunerado”, explica a representante adjunta da ONU Mulheres, Ana Carolina Querino.

Trabalho em duas frentes – Para alcançar os objetivos, o projeto seguirá com duas frentes principais de trabalho. A primeira terá como foco o apoio à gestão municipal e às instituições públicas na elaboração e implementação de um sistema piloto com ações e estratégias integradas para atender quem necessita de cuidados, para valorizar o trabalho das cuidadoras e para responder às demandas das mulheres que assumem essas tarefas. A segunda frente, por sua vez, trabalhará diretamente com as mulheres, atuando no desenvolvimento de suas capacidades para que conheçam seus direitos, em trabalho decente e participem dos processos de decisão, para que possam advogar por políticas públicas que garantam sua proteção social.

“Ambas as frentes contam com a participação ativa das mulheres que realizam trabalhos de cuidado. É urgente que elas conheçam seus direitos, que se vejam como agentes de mudança e que sejam ouvidas em todos os momentos ao longo do desenvolvimento desse sistema. Ao mesmo tempo, também é urgente que a sociedade reconheça a importância dos trabalhos de cuidado e ofereça às mulheres oportunidades para que recebam remuneração justa e tenham o à proteção social em todas as fases de suas vidas. Com mais mulheres participando mais ativamente da economia, mais renda será gerada, dinamizando a atividade econômica e permitindo um desenvolvimento mais sustentável e equitativo”, ressalta o diretor para a América Latina e Caribe da Open Society Foundations, Pedro Abramovay.

A escolha do município de Belém para a implementação desse projeto se dá a partir do comprometimento demonstrado pelo poder público com a igualdade de gênero e o interesse em investir na economia do cuidado. Assim como mostram os indicadores a nível nacional, o município de Belém também enfrenta dificuldades relacionadas à sobrecarga das mulheres em relação às tarefas de cuidado, sendo que as taxas mais altas de desemprego estão entre as mulheres, especialmente mulheres negras. A pandemia de COVID-19 intensificou esses desafios, visto que a rede local de cuidado ficou limitada e as mulheres tiveram que ar mais tempo em suas casas cuidando de seus filhos, por exemplo. No caso da a capital paraense, ainda foi observado um aumento no fluxo de pessoas saindo da Ilha de Marajó para as periferias de Belém, como uma forma de ter mais o aos serviços públicos de combate à COVID-19. Esse fluxo era formado, em sua maioria, por mulheres que são as principais provedoras de suas famílias, sem renda regular e com rendimentos de até um salário mínimo, de acordo com dados da Rede de Apoio Mulheres Marajoaras em Movimento. Com o início do projeto, a gestão pública identifica uma importante oportunidade para aumentar a atenção e a resposta às demandas dessas mulheres na capital.

“Este termo de cooperação técnica será o ponto de partida para que, de um lado, possamos criar e consolidar estratégias e meios que valorizem o trabalho das cuidadoras e, de outro, oferecer instrumentos que garantam direitos, voz, inserção e proteção social a essas trabalhadoras. Meu agradecimento à ONU Mulheres pelo reconhecimento ao nosso trabalho e pela cooperação oferecida, e meu respeito a todas as cuidadoras – as de coração, as voluntárias, as remuneradas, as profissionais. Para além dessa bonita iniciativa de hoje, a Prefeitura de Belém quer e vai construir novas iniciativas junto com todas vocês. As grandes transformações começam nos pequenos gestos de cuidado”, concluiu o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues.